[2ª ED.]
Os campos léxicos e semânticos que sofreram de forma mais acentuada a invasão castelhana (eclesiástico, legal, educativo, científico, comercial, industrial, técnico e mediático) recobrem exatamente as áreas da vida social das quais o galego (quer dizer, as pessoas que falavam galego) foi excluído ou nem chegou a participar. Esta invasão acabou por atingir tal intensidade que “nalguns casos os galego-falantes espontâneos são incapazes de reconhecer algumas palavras tradicionais como galegas, e consideram o castelhanismo substituto como autenticamente galego”. (H. Monteagudo e A. Santamarina, “Galician and Castilian in contact: historical, social and linguistic aspects”, in Rebecca Posner; John N. Green (eds.), Trends in Romance Linguistics and Philology, vol. 5 (1995), pp.163. (Tradução do inglês de Fernando V. Corredoira).
Só “nalguns casos”? Apenas “palavras”? Unicamente os “falantes espontâneos”? E, mais fundamentalmente, são os galego-falantes, espontâneos ou não, capazes de reconhecer o lugar que ocupa a sua língua entre os idiomas peninsulares? Suspeito que, no fundo, deveríamos admitir a nossa ignorância sobre o que é um “castelhanismo”? Ou, por outras palavras, será que sabemos bem o que é “authentically Galician”?
Falar com jeito, pelo contrário, é um instrumento que resulta duma concepção ecuménica do galego (da língua galega, naturalmente) enquanto que parte a integrar no espaço da língua comum – a língua portuguesa, assim dita e conhecida porque foi a nação portuguesa que a tornou língua nacional e internacional. Esta visão da nossa língua e de nós mesmos já não é nenhuma novidade. Aqui damo-la por ponto assente, por puro instinto de sobrevivência.
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Editorial: Através 02-2023Idioma: Galego